Opinião: Bella Campos merece mesmo uma nota zero como Maria de Fátima de “Vale Tudo”?
Existem atrizes da mesma geração mais tecnicamente preparadas e com carreiras consolidadas na dramaturgia, mas, isso não significa que ela mereça o massacre público que vem sofrendo
A atuação de Bella Campos porquê Maria de Fátima no remake de “Vale Tudo” tem sido claro de críticas intensas — a mais radical delas, publicada pelo jornal “O Orbe”, atribuiu nota zero à atriz. Mas será que essa avaliação extrema se sustenta?
É inegável que existem atrizes da mesma geração, porquê Giullia Buscacio ou Valentina Herszage, mais tecnicamente preparadas e com carreiras consolidadas na dramaturgia. No entanto, isso não significa que Bella esteja fazendo um trabalho ruim ou que mereça o massacre público que vem sofrendo.
O principal ponto que muitos críticos e segmento do público parecem ignorar é a transformação proposta pela autora Manuela Dias para a personagem. A Maria de Fátima de 2025 não é a mesma de 1988. No remake, a personagem ganhou contornos de uma “periguete” assumida: mais debochada, fria, autoconfiante e dona de si. Essa construção não é responsabilidade de Bella, mas sim uma escolha da autora e da direção artística.
Nesse contexto, Bella está entregando exatamente o que foi proposto: uma Maria de Fátima menos ambígua, mais direta, mais sedutora e, principalmente, mais calculista. Ela não está tentando reproduzir o que Glória Pires fez na versão original — o que seria um erro —, mas sim oferecer uma releitura contemporânea, alinhada ao texto e ao tom que Manuela Dias imprimiu à obra.
É importante separar a avaliação da atriz da repudiação à personagem. Muita gente não gostou dessa novidade Maria de Fátima, mas isso não significa que a atriz seja fraca ou inábil. O problema, para quem está incomodado, está no texto, na proposta dramatúrgica — não na realização de Bella.
Outrossim, o volume de ataques direcionados à atriz parece desproporcional e, em segmento, motivado por fatores extrínsecos ao seu desempenho. Bella não é considerada uma figura principalmente carismática pelo público ou pela prensa, e sua escolha para o papel mais cobiçado do remake parece ter amplificado as reações negativas. Em outras palavras: o hate vai além da tela.
Evidente, Bella Campos pode não ser a melhor atriz da sua geração — e ela mesma, em entrevistas, admite que ainda está em processo de sazão artístico. Mas proferir que está “destruindo” a romance ou que não está à profundeza do papel é injusto. Ela está longe de comprometer a produção. Está entregando uma tradução congruente com a personagem que lhe foi proposta.
Por término, é fundamental que separemos sátira construtiva de linchamento virtual. Não gostar de uma abordagem é legítimo; transformar isso numa campanha de desqualificação pessoal, não.
Em resumo: Bella Campos não é Glória Pires, nem precisa ser. Está fazendo o que foi pedido — e está fazendo muito. O que incomoda, no fundo, não é tanto a atriz, mas a novidade Maria de Fátima. E essa é, sobretudo, uma escolha de roteiro, não de tradução.
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