Caso Maradona volta à estaca zero após suspeita de parcialidade
Juíza é investigada por suposta relação com documentário sobre o caso, e tribunal prateado decide anular julgamento que já havia ouvido mais de 40 testemunhas
O julgamento que apura se a morte de Diego Maradona foi resultado de homicídio doloso foi anulado nesta quinta-feira (29/5) pelo tribunal de San Isidro, na Argentina. A decisão ocorre em seguida a juíza Julieta Makintach se tornar objectivo de investigação por suposta participação na produção de um documentário sobre o caso.
O juiz Maximiliano Savarino anunciou a decisão de forma solene. “Tendo sido ouvidas todas as partes, comunica-se a decisão do tribunal, que é a nulidade do julgamento”, declarou. O processo havia sido iniciado em 20 de março e, até o momento da suspensão, mais de 40 testemunhas já haviam prestado prova.
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A paralisação do julgamento foi solicitada em 20 de maio pelo promotor Patricio Ferrari, com o objetivo de “resolver uma questão (…) de seriedade institucional”. O Ministério Público apura se houve filmagens não autorizadas dentro da sala de audiências e se Makintach teria relação com os responsáveis pelo suposto documentário. Desde a segunda audiência, a presença de câmeras no tribunal está proibida.
Na audiência de terça-feira (28/5), dois pedidos de recusa contra a magistrada foram apresentados. Um deles aponta “suposta conivência com os documentaristas” e o outro questiona a “parcialidade” da juíza. As contestações partiram da resguardo de dois dos sete profissionais de saúde acusados de homicídio doloso, o que pressupõe que os réus sabiam do risco de morte ao paciente.
Diego Maradona, ídolo prateado e vencedor da Despensa do Mundo de 1986, morreu em 25 de novembro de 2020, aos 60 anos, em Tigre, na província de Buenos Aires. Ele estava em tratamento domiciliar em seguida uma cirurgia neurológica, e sofreu um edema pulmonar. O Ministério Público acusa os profissionais que cuidavam do ex-jogador de negligência grave.
Os advogados Diego Baudry e Fernando Burlando, representantes da arguição, apresentaram denúncia formal sobre o envolvimento da juíza com a produção audiovisual. Segundo eles, os supostos crimes incluem “violação dos deveres de um funcionário público, afronta de domínio, divulgação de segredos ou informações privilegiadas, má conduta no caso de violação do responsabilidade de imparcialidade, tráfico de influência e, possivelmente, suborno”.
Durante a audiência, Makintach se manifestou sobre a investigação. “Para processar um juiz, é preciso ter razões muito fundamentadas”, disse. “Se houver um tanto em risco, talvez eu seja o único a se distanciar”, completou.
Com a verosímil saída da magistrada, o tribunal analisa cenários alternativos para a ininterrupção do processo, incluindo a substituição de Makintach por outro juiz, a transporte do julgamento por somente um magistrado, ou ainda o retiro dos três juízes do caso. Todas as possibilidades envolvem, segundo advogados, o risco de reinício totalidade do julgamento. “Se Makintach for removida, teremos que inaugurar do zero”, declarou Nicolás D’Albora, jurisperito da médica responsável pela coordenação do tratamento domiciliar de Maradona, Nancy Forlini.
Entre os depoimentos já colhidos, está o da psiquiatra Agustina Cosachov, uma das rés. Os demandantes vêm criticando as condições em que o ex-jogador foi mantido em seguida a cirurgia. Várias testemunhas relataram que o confinamento ocorreu em um quarto com pouca higiene, bagunçado e sem os equipamentos médicos adequados para o seguimento galeno necessário.
Com a nulidade do julgamento, os sete réus que respondem por homicídio doloso (arguição que prevê penas de 8 a 25 anos de prisão) aguardam os desdobramentos do caso. Uma oitava profissional de saúde será julgada separadamente. Todos os acusados afirmam ser inocentes.
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