Do aplauso à vaia: confira os desdobramentos do rompimento entre Gerson e Flamengo

O clima no embarque do Flamengo para o Mundial de Clubes nos Estados Unidos, na última quarta-feira (11/6), deixou de ser festivo para se tornar hostil com um único nome: Gerson. A confirmação de que o meio-campista deixará o clube logo depois a disputa do torneio internacional acentuou a ruptura entre o jogador e segmento da torcida rubro-negra.

No Aeroporto do Galeão, torcedores entoaram cânticos ofensivos, exibiram notas falsas de R$ 3 com a imagem do desportista e protestaram contra sua permanência na delegação. Entre os gritos mais ouvidos estava: “Ô Gerson, vai se f… O Flamengo não precisa de você”. Houve ainda tumulto na chegada do ônibus da delegação, com confrontos entre torcedores e a polícia, que usou gás de pimenta, bombas de efeito moral e balas de borracha para sustar a confusão.

Veja as fotos

Transfixar em tela enxurro

Reprodução/flamengo

Reprodução

Reprodução

Voltar
Próximo

As manifestações também se espalharam pelas redes sociais, onde o nome do jogador rapidamente ganhou destaque entre os assuntos mais comentados da plataforma X, macróbio Twitter. Comentários porquê “Que as portas sejam fechadas ao Gerson. Caso queira voltar ao Brasil um dia, que procure um Grêmio da vida. Cá não mais” e “Vaza logo do time, some do planta lá na Rússia” ilustraram o tom adotado por segmento significativa da torcida.

Publicação do pai de Gerson inflamou ainda mais o envolvente

Horas depois os protestos, uma publicação de Marcão Santos, pai e empresário de Gerson, intensificou a crise. Em um vídeo postado nas redes sociais, Marcão escreveu “noite linda” e acrescentou: “Às vezes o nosso silêncio é o nosso raciocínio”. A mensagem foi encarada por muitos torcedores porquê uma provocação, gerando mais revolta e críticas.

Nos comentários, rubro-negros reagiram com indignação: “Você e seu rebento nunca mais vestem o Véu Sagrado”, escreveu um internauta.

Perda de paciência nos bastidores e cláusula bilionária no radar

A saída de Gerson do Flamengo acontece em meio a um desgaste crescente nos bastidores. Pessoas ligadas à diretoria relatam perda de paciência com o comportamento do jogador e seu entorno. O clube não digeriu muito a transporte da negociação com o Zenit e, internamente, houve incômodo com o que foi considerado um distanciamento emocional do camisa 8 nos últimos dias.

Em abril, Gerson havia renovado contrato com o Flamengo até o término de 2030, com aumento salarial e redução da multa rescisória para 25 milhões de euros. O valor será pago à vista pelo Zenit, o que tornará a saída contratualmente inevitável.

Ainda assim, o clube avalia medidas para cobrar uma cláusula suplementar prevista no contrato de recta de imagem. O rompimento unilateral prevê o pagamento de até R$ 36 milhões em valores corrigidos, o que, somado à multa, pode gerar uma disputa jurídica com potencial para se estender à CNRD (Câmara Vernáculo de Solução de Disputas) ou até à Justiça geral.

A diretoria já informou os russos da existência da cláusula. Caso o Flamengo opte por judicializar a questão e vença, o valor poderá ser repassado ao Zenit, estimando-se um impacto financeiro de tapume de 6,3 milhões de euros.

Desgaste com a diretoria e conversas com Ancelotti

Segundo apurou a ESPN, o estafe de Gerson ficou incomodado com a postura da diretoria do Flamengo durante a transporte da negociação. Nos bastidores, o entendimento do lado do desportista é que o clube facilitou sua saída ao concordar reduzir a multa rescisória em abril, mas agora tenta transferir a responsabilidade para o jogador.

Ainda de consonância com ESPN, Gerson conversou duas vezes com o técnico da Seleção Brasileira, Carlo Ancelotti, buscando garantias de que continuar atuando em superior nível na Rússia não afetaria sua presença na Amarelinha. Em ambas as ocasiões, Ancelotti reafirmou que a liga onde o jogador atua não será decisiva para futuras convocações.

Com o aval do treinador e a proposta do Zenit, que triplica seus vencimentos e oferece bônus por desempenho, Gerson avançou nas tratativas, mesmo com o clube carioca tentando evitar sua saída.

Letreiro mantida no Mundial e sátira pública de comentarista

Apesar da crise, o Flamengo manteve Gerson na lista de inscritos para o Mundial. A decisão contrariou segmento da torcida e foi fim de críticas de comentaristas. Durante o programa da TNT Sports, o jornalista Vitor Sérgio Rodrigues foi contundente ao criticar a postura do desportista.

“É o seguinte: quer transpor? Porta da rua é serventia da lar. Pode ir embora. Mas é lógico que isso afeta a idolatria. Eu, se mandasse no Flamengo, nunca mais procuraria o Gerson. Nunca mais. Ainda digo mais. Se é para concordar, acho que não deveria jogar o Mundial. Deveriam botar ele numa sala e manifestar: ‘Você vai concordar? Vai. Portanto, você vai agora. Já pode transpor’”, afirmou.

Por término, o  comentarista concluiu: “Se o Zico saiu do Flamengo, ninguém é insubstituível. Vai fazer falta? Vai. Mas, se sou do Flamengo, ele nem embarca.”

O término do ciclo

Gerson tem 25 partidas, um gol e quatro assistências pelo Flamengo na atual temporada. Esta é sua segunda passagem pelo clube. Ídolo de uma geração e símbolo da era vitoriosa recente, o volante encerrará seu ciclo na Gávea depois o Mundial de Clubes.

A saída, no entanto, não será exclusivamente uma transferência milionária. Será também a peroração de um relacionamento marcado por títulos, expectativa e, agora, frustração.