Interrogatório de Bolsonaro se resume em negação a golpe e críticas às urnas
Durante o tão esperado interrogatório no STF, o ex-presidente negou ter incentivado ações contra a democracia e julgou o sistema eleitoral
O ex-presidente Jair Bolsonaro prestou testemunho na tarde desta terça-feira (10/6) ao Supremo Tribunal Federalista (STF), no processo que investiga a tentativa de ruptura democrática em seguida as eleições de 2022. O interrogatório, transportado pelo ministro Alexandre de Moraes e pelo procurador-geral da República Paulo Gonet, abordou desde sua conduta diante das manifestações de caminhoneiros até acusações feitas contra ministros do Supremo e declarações sobre as urnas eletrônicas.
Indigitado pela Procuradoria-Universal da República (PGR) porquê peça-chave no núcleo político de uma suposta organização criminosa, Bolsonaro negou qualquer pronunciação golpista, pediu desculpas por declarações passadas e tentou desvincular sua imagem das ações mais radicais de apoiadores.
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Suspeição sobre urnas eletrônicas
Mesmo sem apresentar provas, Bolsonaro voltou a criticar o sistema eleitoral brasileiro, dizendo manter “dúvidas” sobre as urnas eletrônicas. Ele mencionou um relatório da Resguardo que apontaria inconsistências no processo; o documento, porém, nunca apresentou evidências de fraude.
Pedido de desculpas a Moraes
Ao ser confrontado por Moraes sobre uma enunciação em que teria denunciado ministros de receber propinas de até US$ 50 milhões, Bolsonaro admitiu que se tratava de um “desabafo” feito em envolvente privado. Ele afirmou que não possuía indícios concretos e pediu desculpas ao ministro: “Me desculpe, não tinha essa intenção de acusar de qualquer meandro de conduta”, disse, referindo-se aos ministros do STF e Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Negativa de trama golpista
Bolsonaro afirmou que, apesar das tensões eleitorais, não havia ambiente para qualquer ruptura institucional. “Não tinha clima, não tinha oportunidade, e não tinha base minimamente sólida para se fazer alguma coisa”, declarou. Segundo ele, foram levantadas “hipóteses constitucionais” em reuniões internas, mas nenhuma com intenção de romper com a legitimidade.
Sem esteio das Forças Armadas
Bolsonaro negou ter solicitado esteio institucional das Forças Armadas para ações antidemocráticas. A enunciação veio após Moraes perguntar se o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, teria colocado tropas à disposição do presidente. “Em hipótese alguma. Não existe isso”, respondeu Bolsonaro. A negativa foi na mesma traço do que disse o próprio Garnier em seu testemunho, também nesta terça-feira (10/6), ao ser questionado se houve mobilização militar para negar o resultado das eleições.
Multa de R$ 22 milhões do Partido Liberal (PL)
Em uma tentativa de sensibilizar o relator, Bolsonaro pediu que Moraes reconsiderasse a multa de R$ 22,9 milhões aplicada ao PL por litigância de má-fé, em seguida o partido questionar o resultado das urnas sem apresentar provas. “Está fazendo muita falta para a gente aqueles R$ 22 milhões”, disse o ex-presidente, em tom informal. A punição foi mantida por unanimidade pelo TSE e o trânsito em julgado já ocorreu, porquê lembrou Moraes na resposta.
Manifestações de caminhoneiros e bloqueios de rodovias
Questionado pelo procurador Paulo Gonet sobre os protestos que tomaram o país logo após o segundo turno, Bolsonaro afirmou ter pedido aos caminhoneiros que desobstruíssem as vias. Ele alegou que não estimulou os atos e que, desde o início de novembro, gravou vídeos pedindo o término dos bloqueios. “Essa não é a nossa maneira de ser”, disse, comparando a conduta de seus apoiadores com a de grupos de esquerda. O ex-presidente também afirmou que se manteve recluso durante o período de transição e que “pacificou o sumo que pôde” entre a eleição e sua ida aos Estados Unidos, no término de dezembro de 2022.
Restrições e vídeos não exibidos
A resguardo de Bolsonaro tentou, sem sucesso, exibir vídeos durante o testemunho, o que foi negado por Moraes. O ministro afirmou que os materiais podem ser anexados ao processo, mas não seriam transmitidos durante o interrogatório.
Saída para os EUA e transição de governo
O ex-presidente também comentou sua decisão de deixar o país às vésperas da posse de Lula. Disse que preferiu passar a fita ao vice-presidente Hamilton Mourão e “cuidar da vida” nos EUA. Ele negou também ter se ausentado para evitar responsabilização judicial.
O testemunho marca a reta final da temporada de instrução processual no STF no questionário que apura a tentativa de golpe de Estado. Bolsonaro é um dos réus do chamado “núcleo decisório” que, segundo a PGR, atuou para romper a ordem democrática em seguida sua rota eleitoral. Com o término dos interrogatórios desta semana, o processo segue para a lanço de diligências e, depois, para as alegações finais que antecedem o julgamento.
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